sexta-feira, junho 08, 2007

O Filme da minha vida


Ainda muito jovem tive o primeiro contacto com o aquilo a que chama-mos de sétima arte. O meu pai durante a noite era arrumador num cinema lá do meu bairro e muitas vezes o acompanhei nesse seu trabalho nocturno, ficando magnificamente sentado no 1º balcão. Para conseguir ver os filmes lembro-me de que o meu pai tinha de ir buscar almofadas para colocar no assento. Eu não sabia ainda ler correctamente e as legendas passavam muito depressa, sentia raiva de não poder entender o que diziam, mas recordo que ficava fascinado com as histórias que via naquela tela gigante. Durante a Páscoa era uma alegria íamos quase todos os dias para ver aqueles filmes bíblicos todos. Com oito anos eu já lia e já compreendia muita coisa. Foi precisamente nessa altura que fui ver o filme La Strada ( A Estrada da Vida ). Sem duvida um dos filmes que mais me marcaram até hoje. Posso dizer que mais tarde numa dessas retrospectivas feitas pelo Canal 2 revi o filme e senti exactamente a mesma emoção de quando era criança.

Falando do filme em si, ele conta a história de Gelsomina, interpretada por uma das minhas actrizes preferidas Giulietta Masina, uma mulher humilde, ingénua que é vendida por sua mãe para Zampanò, interpretado pelo também não menos grande actor Anthony Quinn, um homem rude , duro e insensível que vive a vida fazendo apresentações de um espectáculo cómico que vai passando de terra em terra e que precisa dela como assistente para as suas farsas cómicas ambulantes. Entre eles inicia-se uma relação muito peculiar, ele gozando a sua liberdade não se escusava a dormir com várias mulheres, a beber e a ter por Giulietta uma relação de posse, ela pelo contrario sonhava com a liberdade, pressa a um homem que a mal tratava. Num dado momento cruza seus caminhos o equilibrista conhecido como “ O Louco” interpretado pelo actor Richard Basehart, que nutre por Gelsomina uma admiração muito especial. E ai ela começa sonhar. Tarde de mais para Zampanò ???
E não conto mais nada, terão de ver o filme e sentir aquela mescla de sentimentos que estes grandes actores colocam nas personagens que encarnam.
O filme de Frederico Fellini retrata uma Itália do Pós Guerra decadente, pobre e que vivia na mais profunda das misérias, muito parecida com o Portugal da altura que eu conhecia. Este filme Venceu o Óscar de melhor Filme Estrangeiro em 1957 e é considerado uma das grandes obras-primas de Fellini.
Aos amigos que não viram recomendo vivamente.


2 comentários:

Maurette disse...

Orlando, que feliz você me fez quando, ao abrir a página, dei com o rosto da Masina. Repara naquele olhar: ninguém pode esquecer. Imagino você, tão pequeno que quase nem tinha altura para ficar na cadeira, a desvendar essas maravilhas... Que bênção é o cinema na vida da gente, não? Dedico-te um filme, e não é Cinema Paradiso, mas "Splendor", com o Marcello Mastroianni, que é muito muito mais bonito.
Mas voltando a La Strada, a Gelsomina é tão inocente, tão apaixonada... Está sempre entre a dor e a esperança, e isso se vê nos olhos... esses olhos que guardam o mundo... O filme é perfeito desde o particular - o universo do ser humano - ao geral - aquela miséria vivida com poesia de que você fala. É o lado romântico (e triste) da vida de artista, que foi real pra tante gente, como Edith Piaf, por exemplo, que foi descoberta cantando na rua com seu pai... e dali foi até o mais alto e voltou a cair... Essa coisa dos "homens de coração inquieto" comove-me demais... A Gelsomina está entre as coisas mais tocantes de toda a história do cinema. Tanto em La Strada como em Noites de Cabíria...
A sua história de paixão pelo cinema é linda. E que bom que você vive essa paixão até hoje! Beijo grande, Maurette

Stranger disse...

A tua história é muito bonita, nem sei que te diga senão aquilo que já sabes, que gosto muito de ti!

Vai à "janela" e lê o "Circo Místico" - acho que tem muito a ver com a "Estrada da Vida".
Beijo!