Os Grandes Portugueses

Começou neste fim-de-semana na RTP a votação para o maior dos Portugueses. Da escolha feita de 100 nomes ficaram 10, os mais votados. De todas as 100 primeiras personalidades, muitos mereciam sem dúvida lá estar, mas outros, meus amigos, na minha opinião, não. São sem dúvida fruto do mediatismo dos meios de comunicação social. É verdade, e como dizia um dos "barões" dos media, através destes, poder-se-ia eleger um Presidente da Républica. Concordo. Mas isso sem duvida alguma demonstra o atraso e a ignorância que ainda hoje imperam entre nós.

É de notar que não existe uma única mulher entre eles. Só denota o quanto ainda hoje as mulheres são preteridas em relação aos homens. Sem duvida que as mulheres têm vindo a afirmar-se ao longo do ultimo século e que neste momento ocupam já alguns cargos de chefia, mas os Portugueses continuam a esquece-las, e elas próprias também. São neste momento aquelas que enchem as nossas universidades, mas também são elas as principais vitimas do desemprego. Infelizmente temos uma sociedade machista que coloca nas mãos dos homens o poder de decisão. Reparem que em termos governamentais elas ocupam, por norma os cargos mais embelezatórios, sempre ou quase sempre a pasta da Cultura e da Educação, com uma ou outra excepção. Outros cargos são lhes vedados, penso que não por falta de qualidades, mas porque os homens têm medo. Sim medo, que elas sejam melhores a decidir, a fazer melhor. E acredito que sim, sem dúvida que seriam melhores.

Quanto aos 10 que foram os eleitos como sendo os maiores portugueses, nota-se ainda hoje, uma certa divisão da sociedade. Existem muitos saudosistas que pensam que o antigamente é que era melhor, e acreditam num D. Sebastião, salvador, que nos tire desta pasmaceira em que temos vivido. Mas desenganem-se aqueles que pensam que com ditaduras, sejam elas de que tipos forem, a nossa sociedade poderá evoluir de uma maneira mais justa. Está provado que durante os 48 anos que vivemos sob o dominio de uma ditadura, não evoluímos, pelo contrário estagnamos e andamos para traz. Isto para não falar da repressão que foi exercida sobre todos aqueles que pensavam de maneira diferente. Muitos deles, e é preciso não esquecer, deram a sua própria vida pelas causas pelas quais acreditavam. Não temos o direito de nunca esquecer isto sob pena de estarmos a escamotear a própria história Não é como dizem para aí certos comentadores da nossa praça, que não foi bem uma ditadura, que não era bem fascismo, que os mortos não foram assim tantos e que os presos eram tratados com dignidade. Em nome dos que tombaram pela liberdade, é preciso dizer a estes senhores que não, nós não esquecemos, e entre eles deixem-me recordar uma mulher, Catarina Eufémia, pela sua coragem e pela sua luta. Um exemplo de mulher.

Não é com autoritarismo que os povos alcançam melhores condições de vida, mas sim através de uma sociedade mais justa e numa democracia mais avançada, mais participativa, em que as opiniões dadas sejam levadas em consideração, em que sejamos gente de verdade e não apenas numeros, como nos parecem fazer crer. Sociedade essa que não descrimine as mulheres e estas possam ter iguais oportunidades que os homens.

Por tudo isto tenho muita pena que entre os dez mais, não esteja uma mulher para fazer a diferença.

Mas alguns dos que lá estão podem querer, fizeram a diferença, para o bem e para o mal.

Orlando Gonçalves