sexta-feira, outubro 19, 2007
(Farsa de Entrudo)
Ao longo do meu estudo, deparei-me com este "auto carnavalesco" (Farsa de Entrudo), e não quiz deixar de partilhar convosco estas estrofes.
Estalajadeiro, Tiltapp me chamo,
sou um simplório e não reclamo,
prefiro servir-me de uma mulher
a lutar com um urso qualquer,
um bom vinho a cerveja estragada,
e lamber mel a sebo de roda.
Ao trabalho não tenho apego.
Se estou apertado logo cago.
Prefiro creme doce a mioleira.
Sou ou não sou um simplório de primeira?
(Till Eulenspiegel)
Breve explicação:
Descrevem a figura de uma época dos finais da Idade Média, a qual se integra na cultura do riso, e se prende mais com uma sociedade citadina, tem pois, em vista, o convívio social entre homens e mulheres, e contribui para uma atmosfera descontraída, recorrente ao chiste, à paródia ou à adivinha. Domina o monólogo do mascarado, geralmente com a intenção de dar de si próprio um retrato cómico.
Teatralizado, por grupos de actores que andavam de festa em festa, envolviam-se por entre o público e constituíam uma sociedade de bobos entre outros bobos.
Esta (Farsa de Entrudo) não conhece, nem palco, nem sequência de cenas, e o público é convidado a tomar posição activa.
O objectivo é suscitar entre os presentes, dentro da situação imediata da farsa carnavalesca, o máximo de riso e de boa disposição possível e, no fim, reunir numa dança recitadores e ouvintes. E os recitadores não são nada comedidos na escolha quer dos meios linguísticos, quer das alusões. Grosseria, uma linguagem fecal, e obscenidades são os elementos-chave de um mundo de pulsões que se liberta das apertadas regras de comportamento da cidade.
O seu princípio supremo é a transgressão consciente de tabus e uma alegria vital na enunciação daquilo que em si é interdito.
A figura do camponês apresenta dentro da cultura do riso dos fins da Idade Média, uma posição tanto passiva, como activa. Ele não só permite que se riam dele, como também se ri dos outros.
Saudações medievalistas!
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2 comentários:
Pronto, desta é que foi...perdi todo o meu protagonismo de estudante do superior e estou a ser ultrapassada pelos caloiros. Ainda por cima só sou veterana na idade. CHUIF;CHUIF!! Mas tenho de assumir que este texto é muito interessante...Sorte de principiante, talvez...EHEHEH!!!
Saudações de uma invejosa!!!
A poesia mediaval também aqui em portugal apareceu muito vincada com aquilo a que se chamou de cantigas de amor, de amigo, de escárnio e de maldizer. Este pequeno poema que aqui nos deixas é de facto muito engraçado. Deixo-vos aqui também e com tradução uma cantiga de Amor.
A canção da Ribeirinha
Esta cantiga de Paio Soares de Taveirós é considerada o mais antigo texto escrito em galego-português: 1189 ou 1198, portanto fins do século XII. Segundo consta, esta cantiga teria sido inspirada por D. Maria Pais Ribeiro, a Ribeirinha, mulher muito cobiçada e que se tornou amante de D. Sancho, o segundo rei de Portugal.
"No mundo nom me sei parelha, / mentre me for' como me vai, / ca ja moiro por vos - e ai / mia senhor branca e vermelha, / queredes que vos retraia / quando vos eu vi em saia! / Mao dia que me levantei, que vos enton nom vi fea! "
No mundo ninguém se assemelha a mim / enquanto a minha vida continuar como vai / porque morro por ti e ai / minha senhora de pele alva e faces rosadas, / quereis que eu vos descreva (retrate) / quanto eu vos vi sem manto (saia : roupa íntima) / Maldito dia! me levantei / que não vos vi feia (ou seja, viu a mais bela).
"E, mia senhor, des aquel di' , ai! / me foi a mim muin mal, / e vós, filha de don Paai / Moniz, e ben vos semelha / d'aver eu por vós guarvaia, / pois eu, mia senhor, d'alfaia / nunca de vós ouve nem ei / valia d'ua correa".
E, minha senhora, desde aquele dia, ai / tudo me foi muito mal / e vós, filha de don Pai / Moniz, e bem vos parece / de ter eu por vós guarvaia (guarvaia: roupas luxuosas) / pois eu, minha senhora, como mimo (ou prova de amor) de vós nunca recebi / algo, mesmo que sem valor.
Espero que gostem.
Saudações Académicas
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