domingo, outubro 21, 2007
"Canção dos Nibelungos"
São tantas as lendas da época medieval que me fascinam, que não podia deixar de postar, uma história datada do século XIII, no original "Niebelungenlied",(Canção dos Nibelungos), conjunto de poemas épicos da literatura medieval alemã, de autor anónimo, provavelmente de vários, considerado o trabalho de maior realce da poesia medieval da Alemanha.
Fragmentos da "Canção dos Nibelungos", uma secular "história de assassinato, vingança, ódio e traição", segundo a historiadora de arte Charlotte Ziegler, estavam esquecidos dentro de duas caixas, sabe-se lá há quanto tempo, juntamente com outros fragmentos antigos". A descoberta deu-se no Mosteiro de Zwettl, situado 120 quilômetros a noroeste de Viena. O maior dos pedacinhos de pergaminho mede apenas três por oito centímetros.
As 2400 estrofes da "Canção dos Nibelungos" formam a mais importante saga medieval alemã, provavelmente fixada em forma escrita entre 1198 e 1204.
Os diversos episódios isolados – tratando do nobre guerreiro Siegfried, seu assassínio e da vingança de sua esposa Cremilde – são bem mais antigos, remontando ao período das migrações das nações germânicas, entre os séculos IV e VI.
Esta saga tem papel vital na cultura germânica. Dentre suas inúmeras adaptações literárias e teatrais, a mais conhecida é possivelmente a tetralogia operística "O Anel do Nibelungo", do compositor Richard Wagner (1813-1883).
A lenda germânica relata a história de Siegfried, filho dos reis Sigmond e Siglind das Terras Baixas (Holanda), nobre guerreiro de sangue real, príncipe bonito e corajoso; um jovem desejado pelas mais nobres da corte de Santem, mas ele não podia nem sequer conceder a sua atenção àquelas donzelas, porque o seu inquieto coração estava em Worms, onde morava a doce Cremilde.
Siegfried não é movido na sua aventura pela procura dum confronto contra um par da cavalaria, mas pela relatada beleza da bela Cremilde, uma princesa de Borgonha, filha do falecido rei Dankrat e da rainha Uta, irmã de três reis, Günther, Gernot e Giselher.
A princesa Cremilde dos borgonhos, é o objecto do seu amor, a donzela sonhada, a bela virgem pela qual se apaixona perdidamente Siegfried pelas referências que lhe chegaram da sua inigualável beleza.
Ao conhecerem-se, ambos puderam dar-se conta imediatamente de que o amor vivido por cada um deles era um sentimento mútuo. Só faltava ao valoroso príncipe Siegfried passar por outra nova prova de armas, a prova de rigor que lhe permitisse aceder à mão da princesa que acabava de conhecer, e esta oportunidade sonhada não demorou demasiado em apresentar-se. A ocasião de ganhar o amor da adorada Cremilde chamava-se Brunilde e era uma rainha tão bela como violenta, nada menos do que a indômita soberana do longínquo reino da Islândia. O rei Günther amava-a à distância e necessitava de alcançar o seu coração. Não era tarefa simples, pois a singular rainha exigia ser vencida em combate para conceder o seu coração, e infelizmente era tão forte como cruel, dado que tinham sido muitos os nobres que tinham pago com a sua cabeça a derrota perante Brunilde. O rei Günther era um temerário lutador, mas necessitava da ajuda daqueles fiéis voluntários que quiseram arriscar-se com ele na sua tentativa. O bom Siegfried, naturalmente, foi o primeiro cavalheiro em oferecer-se incondicionalmente ao seu serviço, reclamando como única compensação, claro, a Cremilde em casamento se a expedição resultasse favorável para os desejos do seu rei e senhor. Para completar a breve força de acompanhamento, solicitou a presença dos irmãos Hagen e Dankwart. Também Siegfried tomou algo que mais ninguém conhecia, salvo ele: um manto mágico arrebatado ao anão Alberic, do país dos nibelungos, com o qual podia tornar-se invisível à vontade e ficar a coberto de qualquer arma, por muito afiada que estivesse e por robusto que fosse o braço que a empunhasse. Siegfrid era invencível, mas nesta ocasião não tratava de conquistar prestígio para si, senão a possibilidade de ganhar o privilégio de ser esposo de Cremilde.
Assim que a tropa se preparou, os quatro valentes partiram de barco para a Islândia e, após doze dias de travessia marinha, chegaram às suas costas, divisando maravilhados a altiva fortaleza de "Isenstein". Foram imediatamente recebidos pela rainha Brunilde, que devia estar ansiosamente à espera de emoções violentas. Assim que chegaram diante dela, os recém-chegados, pela boca de Siegfried, anunciaram a intenção do rei Günther de ganhar a mão de Brunilde, a mulher com fama de ser mais forte do que doze homens. Aceitou feliz Brunilde o desafio esperado, recordando a todos os presentes que a falha de Günther em qualquer uma das provas significaria automaticamente a sua morte, pois nunca se dava quartel ao vencido, e propôs-lhe competir primeiro num combate à lança e, se o superava, depois no lançamento duma pedra tão longe como se pudesse, para mais tarde ter que alcançá-la de um único salto. Aceites que foram as duas absurdas provas, Siegfried chamou num à parte a Günther para informar-lhe de que, graças à posse da capa do anão Alberic, ele converter-se-ia no invisível adversário de Brunilde, enquanto o rei actuaria fingindo ser ele o único combatente de Brunilde. Assim se fez e foi Siegfrid quem derrotou com facilidade a rainha Brunilde com a lança, após um combate no qual ela via admirada como a força de Günther se multiplicava até desarmá-la. Mais tarde, Siegfrid arrastou a pedra pelo ar, para depois transportar Günther da mesma forma ao longo do mesmo trecho. Cumprido o trâmite, Günther, suposto vencedor, fez saber à sua amada e vencida Brunilde que agora já era a sua prometida em toda a regra e, portanto, ela devia cumprir o pactado, seguindo-o de bom grado na sua viagem de regresso ao país dos borgonnos. A derrotada rainha, entristecida pela sua obrigada partida mas aceitando o que julgava justo resultado, quis despedir-se dos seus súbditos e pediu o tempo necessário para fazê-lo em boa forma e preparar a sua partida definitiva para o país do que seria o seu esposo, e no qual ela continuaria mantendo o seu real rango.
Vencida Brunilde e outorgada por Günther a sua irmã Cremilde em casamento, Siegfried foi ao país dos nibelungos para preparar um exército que escoltasse o seu rei e para retirar do fabuloso tesouro dos nibelungos o seu próprio dote.
Na mitologia germânica, os nibelungos eram um povo de anões assim denominados devido ao nome do seu rei Nibelung (Filho da Neblina). Só teve que vencer a oposição do guarda armado, mas isso era simplesmente um exercício de práticas para o jovem, movido pela felicidade do seu próximo casamento. Ninguém mais se opôs, nem sequer o anão Alberic, já despojado da sua mágica capa e rendido de antemão perante o impulso do seu antigo vencedor. Escolheu, pois, Siegfried as mais ricas jóias do tesouro dos nibelungos e exigiu a escolta dos melhores mil homens, com os quais formou a majestosa coluna que devia passar pela Islândia para acompanhar o seu senhor e Brunilde, para mais tarde chegar triunfal a Borgonha, de acordo com a dupla cerimônia que teria de realizar-se. Deixando os mil nibelungos na Islândia, Siegfried adiantou-se para ser o primeiro que a dar a notícia da vitória de Günther em Worms. A notícia foi acolhida com júbilo e todo o país se apressou nos preparativos do casamento real. Toda a corte se lançou às ruas da capital para receber o seu rei e a que seria em breve sua rainha. Siegfrid, na grande festa de recepção, recebeu oficialmente a mão da sua amada. No mesmo dia celebrou-se o duplo casamento e tudo parecia ser perfeito, salvo um olhar triste de Brunilde, que sofria vendo a princesa Cremilde acompanhada pelo vassalo Siegfried. Günther tentou tranqüilizar o seu pesar, advertindo-a de que se tratava de um príncipe dos Países Baixos, amigo fiel como nenhum outro. A resposta irritou a brutal Brunilde, que abandonou a sala e dirigiu-se airada para o seu aposento seguida pelo atônito Günther.
Lá, na solidão da câmara nupcial, exigiu uma explicação a esse estranho -para ela- acasalamento. O rei quis demonstrar o seu poder sobre a esposa, mas Brunilde não se deixou vencer e bateu no seu marido deixando-o depois pendurado de um gancho da parede. Siegfried, que tinha presenciado a primeira parte do surpreendente confronto entre a recém-casada e o seu marido, embrulhou-se na capa de Alberic a tempo de seguir o real casal à intimidade dos seus quartos, tentando averiguar a razão daquela súbita cólera da inexplicável Brunilde. À vista do que sucedia, apagou as tochas e, actuando com rapidez na escuridão, livrou Günther da sua humilhação, para lançar-se imediatamente sobre a fera Brunilde e arrear-lhe uma inesquecível tarefa. Sem saber bem porque é que o fazia, talvez para descarregar a sua ira perante semelhante desconsideração da rainha, Siegfried aproveitou a situação para lhe arrebatar um anel da sua mão e o elegante cinto que cingia a sua cintura. Os golpes abrandaram o génio da rainha e até a deveriam ter feito sentir-se no seu elemento, ao passo que esta, ignorante de novo da invisível presença de Siegfried, pedia feliz e humilde perdão ao seu marido, ao mesmo tempo que lhe prometia eterna submissão à sua real vontade.
Siegfrid e a sua esposa Cremilde partiram para o reino dos Países Baixos, onde ocuparia o trono que lhe transmitia o seu pai o rei Sigmund e também aquele outro ganho pela sua mão, o dos nibelungos. Siegfrid reinaria com rectidão e prudência, e a sua esposa, a rainha Cremilde dava-lhe um filho, ao qual se impôs o nome de Günther, em recordação do nobre rei dos borgonhos, ao mesmo tempo que lá, Brunilde tinha também um menino, ao que foi dado o nome de Siegfrid, em homenagem a este herói. Mas, apesar das aparências, não tinha ficado resolvido o assunto da casamento entre vassalo e princesa. Foi por esta razão que Brunilde voltou a insistir em que Siegfried rendesse vassalagem ao seu senhor e a melhor maneira seria fazê-lo vir à corte de Worms, com a desculpa de um torneio entre cavalheiros. Em má hora aceitou o casal o convite de Günther, pois a insistente Brunilde, tão depressa teve a sua cunhada diante dela, fez-lhe saber que Siegfried era simplesmente o vassalo do seu marido, pois assim o tinha ela ouvido da boca de Günther ao ser vencida na Islândia. Cremilde negou a vassalagem e gabou-se de que na cerimónia religiosa do dia seguinte estaria situada diante da sua cunhada.
E foi certo: Cremilde entrou diante de Brunilde na catedral de Worms, humilhando-a perante toda a corte. À saída dos ofícios, Brunilde exigiu pública rectificação, mas Cremilde limitou-se a mostrar aquele anel e aquele alfinete que Siegfried tivesse arrebatado na luta com a irada dama, indicando-lhe que ela, Brunilde, era a derrotada pelo seu marido.
Mais colérica do que nunca, Brunilde mandou chamar o rei Günther para pedir explicação, pois ela julgava firmemente que ele era o seu duplo vencedor. Günther, ao conhecer a razão do alvoroço, pediu a presença de Siegfried, para perguntar-lhe se era certo que se tinha gabado da sua vitória. Siegfried estava já preparado para jurar perante o seu senhor e amigo que nunca ele tinha presumido de tais actos e aquilo bastou para que Günther interrompesse o juramento, recuperada a confiânça em quem sempre tinha demonstrado a sua fidelidade, sendo culpada de tudo o sucedido a sua irmã Cremilde e a sua vã arrogância.
Günther e Siegfrid continuavam a ser inseparáveis, mas Brunilde e Creimilde estavam definitivamente enfrentadas.Hagen aproximou-se da sua senhora, para conhecer a causa do seu padecimento e esta fez-lhe saber que necessitava de satisfazer a sua sede de vingança com o sangue de Siegfried. Então Hagen prometeu dar fim a essa odiada vida com a sua própria mão, mas o rei e a sua corte -informados da promessa de Hagen- quiseram culpar Cremilde e, sobretudo, evitar a possível resposta violenta do invencível Siegfried. Então todos juraram manter em segredo a decisão de matá-lo, tramando um falso ataque estrangeiro a Günther, para fazer com que o herói acudisse junto do seu amigo e assim poder matá-lo à traição. Em efeito, Siegfried voou, mais do que cavalgou, para Worms, enquanto Hagen se aproximava da solitária rainha Cremilde, com o pretexto de ser porta-voz da petição de perdão e da graça da sua amizade por parte da arrependida Brunilde.
Ao mesmo tempo, fazendo ver que queria guardar Siegfried do mal de uma arma inimiga, conseguiu que a ingênua Cremilde lhe revelasse o ponto débil do seu marido, o único lugar do seu corpo não banhado no sangue do dragão que o tinha feito invulnerável, no centro das suas costas. Conhecendo Hagen o ponto exacto, a única coisa que teve que fazer foi convencê-lo de que o acompanhasse numa pretendida caçada para, à traição, matá-lo com uma lança que cravou entre os seus omoplatas. Depois, o cadáver foi levado a Worms para deixá-lo à porta de Cremilde, como um insulto acrescentado à sua morte. Ao ver que não há mais ferida do que a que lhe atravessou a zona que ela revelou a Hagen, Cremilde sabe que Siegfried foi assassinado e também quem foi o que causou a sua morte pelas costas; para prová-lo, a viúva faz desfilar todos os nobres da corte do seu irmão diante do féretro de Siegfried. Quando chegou a vez de Hagen, a ferida abre-se e dela brota o sangue revelador. Cremilde já não necessita de nenhum outro sinal, Siegfried foi a vítima de Hagen e, atrás dele, se esconde o ódio de Brunilde. Cremilde comunica aos pais de Siegfried que ficará em Borgonha junto da sepultura do seu marido e que não renuncia à justa vingança.
A infeliz Cremilde tinha ficado encerrada na sua dor, mas tudo se virava contra ela e as suas recordações; até o tesouro dos nibelungos tinha caído na mãos de Hagen; enquanto tudo sucedia deste modo, o também recente viúvo Átila tinha ouvido da bela e alienada viúva de Siegfried e quis pedí-la em casamento. Não parecia possível que tal oferta fosse aceite, mas, após pensar nas possibilidades de poder que se lhe abriam ao unir-se a tão poderoso rei de Angra, Cremilde mudou de opinião e comunicou ao mensageiro "Rudiger" que ela aceitava a proposta do muito valente e nobre Átila e em partir assim que estivesse pronto o seu séquito, para encontrar-se com o seu prometido em "Tulne", junto do rio Danúbio. De lá saiu a mais faustosa comitiva real que se tenha conhecido, a caminho de Viena, onde teria que celebrar-se o casamento, em Pentecostes. Terminados os faustos reais, os reis foram para "Etzelburg", para instalar-se na capital do reino de Angra. Nada sucedeu durante sete anos, e um dia, Cremilde quis que Átila convidasse os seus, para que fossem testemunhas da sua grande felicidade. Consentiu o rei e enviou mensagem a Worms para que viesse à sua corte o rei Günther e a sua nobreza. A notícia levantou dúvidas em Hagen, que se sabia marcado pela morte de Siegfried, assim como noutros nobres participantes da conspiração; outros queriam pensar que Cremilde já se teria esquecido da morte de Siegfried e todos discutiam sobre a conveniência de tal viagem, mas o rei Günther preferiu aceitar o convite da sua irmã, mandando organizar uma caravana de mais de mil guerreiros a cavalo e de nove mil infantes que acompanhariam os visitantes borgonhos até "Etzelburg", para dissuadir Átila de qualquer desejo de traição para com os seus convidados; enquanto saíam da corte as intermináveis colunas de homens armados, em Worms reinava a dor das esposas que ficavam atrás, pois elas já pressentiam o trágico final dessa impressionante comitiva.
A viagem não teve incidentes na sua primeira parte, e em breve chegaram os dez mil homens às margens do Danúbio, o primeiro obstáculo à marcha da expedição borgonha; encomendou-se a Hagen encontrar o meio de atravessá-lo e foi a mágica intervenção de umas ninfas do rio que deu a chave daquela passagem e, do mesmo modo, a advertência de que a morte os esperava no outro lado do poderoso rio. Hagen encontrou o barqueiro de quem as ondinas lhe tinham falado e conseguiu a sua balsa, embora tivesse que matar o obstinado homem, que se negava a prestar a sua embarcação a desconhecidos. Com ela atravessavam todos o crescido Danúbio. Na outra margem, Hagen, conhecedor da sua sorte, destruiu a balsa, fazendo saber a todos que já se tinha ultrapassado o ponto sem retorno; que agora já só lhes restava enfrentar o seu destino até as últimas consequências. Em breve se viu que a situação tinha mudado radicalmente, pois tiveram que enfrentar e derrotar o margrave "Else", senhor daquelas terras, que tinha tentado impedir-lhe a passagem. Mais tarde, em "Bechelarem", uniu-se a eles o margrave "Rudiger", com mais quinhentos homens. Na fronteira de Angra aguardava-os Teodorico, que em breve esperava casar com a sobrinha de Átila, mas que ia ao encontro dos de Worms com a ideia de advertir-lhes daqueles planos de vingança que tinha visto em Cremilde; os borgonhos responderam-lhe que sabiam qual era o desígnio da segunda esposa de Átila, mas que já tinham atravessado o ponto após o qual não se podia regressar, por isso, continuavam a sua viagem até ao palácio do rei dos hunos, como se não fosse suceder-lhes nada.
Cremilde recebeu o seu irmão, o rei, e pretendeu mostrar a sua felicidade por tê-lo junto dela. No entanto, Hagen espetou à sua anfitriã que sabia que esta suposta festa era simplesmente o disfarce de uma emboscada, fazendo com que Cremilde se obrigasse a demonstrar a sua animadversão para com os assassinos do seu primeiro e amado marido: depois, controlando-se, convidou os borgonhos a despojar-se das suas armas, mas eles negaram-se; ainda mais colérica, Cremilde perguntou sobre a identidade de quem tinha podido inspirar tal temor nos convidados e Teodorico adiantou-se para comunicar-lhe que ele próprio tinha advertido os borgonhos do perigo. Já instalado no palácio, Hagen, com a espada Balmung arrebatada a Siegfried sobre o seu regaço, permaneceu sentado diante da rainha Cremilde e da sua guarda, em claro sinal de desafio, ao mesmo tempo que declarava publicamente ter sido ele quem matou Siegfried. Cremilde viu-se insultada e, o que é pior, comprovou como a sua guarda retrocedia perante a figura tremenda e desafiante do decidido Hagen. Sem forças que a apoiassem, a rainha deixou que a recepção começasse. Nada passou no seu desenvolvimento e só ao chegar a noite, quando os borgonhos quiseram retirar-se para os seus quartos, viram que lhes era impedida a passagem. Não obstante, retirou-se imediatamente a tropa dos hunos e os convidados puderam encaminhar-se para os seus leitos, atentos ao que se lançava ostensivelmente sobre as suas cabeças, dado que se fechava o copo dos hunos ao redor do seu quarto, mas bastou a presença de Hagen armado e presto para a luta para que a nova tentativa de matar os borgonhos se desbaratasse.
Na manhã seguinte, os borgonhos dirigiram-se para o templo totalmente armados; após a missa preparou-se o torneio, do qual o prudente Teodorico retirou os seus seiscentos homens; ficaram unicamente hunos e borgonhos e também não sucedeu nada nas lides. Cremilde, num à parte, pediu ajuda a Teodorico para vingar o assassínio do seu marido, mas Teodorico recordou que estavam todos submetidos à lei da hospitalidade e que nunca atacaria quem se encontrasse sob a proteção de Átila. Com a negativa de Teodorico, Cremilde foi a Bloedel, o irmão de Átila, e este aceitou a vingança à hora do almoço. Com mil guerreiros entrou Bloedel na estância secundária onde se encontravam os infantes de Borgonha, anunciando a sua intenção de matar o assassino de Siegfried, mas Dankwart, o irmão de Hagen, matou-o com a sua espada assim que terminou de falar. Desta forma começou a disparatada batalha, com armas quem as tinha e os que não dispunham delas com os restos do mobiliário nas suas mãos. Dankwart, ferido, penetra na sala principal, interrompendo a comida dos reis; Hagen, ao ver o seu irmão sangrando, mata, sem pensar uma segunda vez, o filho de Átila com a sua espada; Átila e Günther tentam parar a matança mas, ao não conseguir-lo, unem-se à furiosa luta. Cremilde volta a rogar a Teodorico que empunhe a espada por ela, mas o godo pede uma trégua a Átila e retira-se com os seus homens do cenário. O margrave Rodagemar, sentindo-se também alheio à contenda, pede licença a Günther para fazer a mesma coisa com a sua gente. E o combate prosseguiu com raiva até a noite; os esgotados adversários acordaram uma trégua, pedindo o prosseguimento do desafio em campo aberto, mas Cremilde interveio para negar tal possibilidade, exigindo a entrega de Hagen pela vida do resto dos borgonhos. Perante a negativa de Günther e dos seus irmãos, Cremilde mandou os hunos abandonar o palácio e prendeu-lhe fogo para acabar com todos os borgonhos encerrados dentro dele. Mas o fogo também não terminou com os seus odiados inimigos, pois ao sair o sol estavam vivos e preparados para a luta. Rudiger, de regresso ao palácio, viu-se obrigado, contra a sua vontade mas a teor da sua lealdade para Átila, a empunhar as armas contra os borgonhos até à morte; Teodorico, ao conhecer as notícias, regressou para o campo de batalha para resgatar o cadáver do imolado Rudiger, mas os borgonhos tomaram a sua volta como um ataque e só ficaram em pé Hagen e Volker, com o seu rei, Hagen, por um bando, diante do ancião Hildebrando pelo outro. A ele se uniu Teodorico, e foi a sua espada a que feriu Hagen e terminou o combate com a captura de Hagen e Günther. Levados à presença de Cremilde, esta mandou matar o seu próprio irmão e, com a espada Balmung nos seus braços, decapitou o Hagen. Então, Hildebrando, vendo que se matava um homem indefeso, matou Cremilde. Só ficaram com vida Átila, Teodorico e o velho Hildebrando, na Hungria, enquanto a cruel e despótica Brunilde estava a salvo, na remota Worms, sem se importar, ao parecer, por ter sido a causadora daquela matança sem sentido.
Saudações medievalistas!
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6 comentários:
Gosto muito destas histórias, fazem-me sonhar muito. Adoro esta época. Sem duvida que "O Senhor dos Aneis" foi inspirado na "Canção dos Nibelungos". Hum, começo a pensar se não seria melhor eu mudar de curso e ir para Literatura Alemã para conhecer mais esta época da história europeia, o pior era mesmo a lingua, eu nem Inglês sei, quanto mais Alemão. Pensando melhor deixo isso para a Paula, ela sempre nos vai actualizando e eu não preciso de aprender mais nenhuma língua, bem basta aquela que tenho de aprender agora que me está a dar cabo da cabeça, lol lol lol. Fico mesmo pelo meu curso.
Um Bem haja Paula pelos posts e por partilhares connosco estes momentos.
Beijos
Hoje é já o dia do teu aniversário, são precisamente 0:38 e ainda por aqui estou (sem sono), vi que já leste a minha linda história, que me levou a tarde e parte da noite a preparar, mas acho que valeu a pena, vale sempre a pena, quando é de coração, e ainda bem que gostaste, pois fico feliz por saber que na 1ª hora 1/2h do teu dia de anos, leste algo maravilhoso e que fui eu que o proporcionei.
Beijinhos e PARABÉNS MAIS UMA VEZ!
P.S.: Fica descansado que não ficarei por aqui, sempre que achar que vale a pena postar algo interessante, assim o farei.
Efectivamente, só conhecia a Ópera "O Anel do Nibelungo" de Wagner, de onde surgiu a minha paixão, já antiga, pelo nome Valquíria. Mas esta história é absolutamente fantástica e, segundo parece, alguns de vocês já a viram na nossa TV. Contem-me tudo, please!!!! Existe em DVD?? E livro há??
Saudações de uma cada vez mais invejosa!( Aida)
Durante a leitura desta historia, fui me lembrando do filme, cujo nome não me lembro, e que é realmente imperdivel.
A história é linda.
Paula, quando estiver com insonias, o problema está resolvido; estuda muito e aprende historias destas para despois me contares, tá...
Bjs
CHORA
Já conhecia a história, vi o filme, mas uma outra adaptação, o nome do filme era outro, não sei se seria "Os nibelungos", "O Anel dos Nibelungos"..., sei que vi este filme e ADOREI, e quem diria que, viria a ser matéria de uma das unidades curriculares do meu curso, assim como tantas outras histórias que vou lendo, umas conheço, outras nem tanto.
Em relação ao livro, pois é, sei que ele existe em diversos formatos, e de vários autores (visto ser uma história de autor anónimo), mas ainda não o consegui, já tentei, mas dizem que, não se encontra, cá em Portugal, mas eu hei-de adquirí-lo(depois empresto).
Beijos
Bem, ouvi dizer que o nosso Orlando estava a precisar de explicações de Inglês... por isso, aqui vai:
http://www.youtube.com/watch?v=wRlcmEFH9xo
(não aprendes nada mas divertes-te muito)
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